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O velho foi à cidade grande

Era a segunda vez em sua longa vida que fazia aquela viagem. Para ele, cidade grande, muito grande. Foi de ônibus, como da primeira vez. Mas, desta vez, era diferente: foi para comprar um carro. Teve o cuidado de fazer curso, obter habilitação, tudo nos conformes. Estava confiante. Mas, na hora de voltar…

A visão, de dentro de um carro, é diferente. E não pode olhar para os lados. E não dá tempo de prestar atenção nos prédios para saber onde está. E agora? Sentia-se dentro de um labirinto…

Mas a sorte procura os bons! Um ônibus passou e ele não hesitou:

– Vou atrás desse que chego lá.

Logo descobriu que nem tudo é fácil como pensamos. Motorista de primeira viagem e motoristas profissionais são… Digamos, diferentes. O ônibus ficava cada minuto menor, até que perdeu-o de vista. Teve uma ideia iluminada: esperar o próximo! Entrou em um posto de combustível e, para disfarçar, mandou abastecer.

– Vovô, o tanque está quase cheio!

– Completa.

Esperou pacientemente, até que passou um ônibus comum, desses que pega passageiros a cada 200 metros.

 

 

– Que sorte!

Seguiu tranquilo até a cidade seguinte, pequena para quem é da capital, mas não para ele, que se sentia confuso naquele emaranhado de ruas. Quando o ônibus parou na rodoviária, esperou uns cinquenta metros atrás, para “não dar na vista”.

Quando o motorista entrou no ônibus, ele ligou o motor e saiu logo, temendo perdê-lo. Mas o itinerário era diferente…

O ônibus seguiu por um bairro, fez voltas por ruas estreitas… E ele, atrás… Parava e esperava… Por um tempo, preocupou-se, se não é o caminho, como voltaria? Mas lembrou que estava escrito o nome de sua cidade e relaxou – “vai para lá”. Numa reta quase o perdeu!

– “Motorista afobado, para que correr tanto”?

Mas a sorte estava com ele: uma senhora, com uma criança, fez sinal e subiu devagar.

– Abençoada!

Conseguiu aproximar-se, entraram na rodovia, onde acompanhou (não sem dificuldade) o ônibus graças aos passageiros que embarcavam pelo caminho.

Alguns quilômetros adiante o ônibus deixa a rodovia e segue por uma estrada de chão batido… Não hesitou, foi atrás! 

Quase duas horas e dezenas de paradas depois, chegaram! Desceu, esticou as pernas e disse para si mesmo:

– Que viagem!